No começo do ano fiz um post no Facebook que me rendeu muitos comentários divertidos. Foi bem na época de protesto direcionado a Anitta quanto à aglomeração e “luxuria” ao esbanjar dólares como num filme B numa “buatchy” de Miami, pelo que me lembro. Tal qual uma she-gangster, Anitta foi flagrada numa boate stripper ao lado do rapper norte-americano Tyga jogando dinheiro — dólares, muitas notas de dólares — para o alto e em direção aos celulares de prontidão para Instagramar! Fãs e internautas logo caíram em cima da funkeira.
O tal flagra mencionado foi divulgado nos stories do Tyga. Nas imagens, ninguém usa máscara e distanciamento, claro, não existe. Mas era janeiro de 2021 e… a vacinação ainda estava em estado letárgico…
A atitude da Anitta foi bastante criticada, já que ela estava curtindo uma festa em meio à pandemia e ao colapso do sistema de saúde de Manaus: onde brasileiros estavam morrendo por falta de oxigênio! O Brasil já contabilizava mais de 200 mil óbitos por Covid-19 no começo do ano… nossa tragédia só piorava…
Até que, numa noite na mesma semana, um analisando preenche a sessão com o ocorrido! Por este motivo coloco o texto aqui e compartilho, assim vai para a newsletter e quem nunca leu, tem a oportunidade agora!
Minha pergunta foi — “que katso você tem a ver com isso? Problema dela se ela vive numa outra dimensão não acha!"
“Mas ela deveria ser exemplo…” — diz o analisando teimoso. Respondo — “exemplo do quê? Desde quando… tá em algum contrato dela? Ela deve algo pra você, para a gente?”.
E continuei… — “O que incomodou afinal? A pornografia no esbanjamento de dinheiro ou o fato dela ostentar uma posição que você não pode atingir?”
Siêncio… e após… risos…
As redes sociais são um repositório destas pataquadas que geralmente “descobrem”, tiram o véu de muitos sintomas (até meus… kkkkk!). Mas vamos lá, não vejo problema nenhum dela ou nela em deixar à mostra sintomas, acting-outs… que não pertencem ao meu entorno e nem do analisando. Afinal o dinheiro esbanjado não era nosso… Só sei que foi na verdade uma boa questão para preencher a sessão e esse paciente é um cara inteligente, intrigante… e traz boas situações para ele se implicar na análise.
Sempre digo que o neurótico raiz traz para a análise problemas concentrados em 4 universos:
1. problemas com dinheiro
2. problemas com amor
3. problemas com trabalho
4. problemas com família
Ás vezes é tudo meio que misturado. Mas sempre um dos quatro predomina no discurso na livre associação. Daê fiquei pensando que no famoso âmbito do desejo, e via scoptofilia (como prática de voyerismo nas redes sociais) eis que surge a inveja — “o que aquele sujeito tem e porque eu não tenho?”. Então caro leitor, você não tem pois tua história do desejo é outra. Teu percurso pulsional é outro, muito além do mal-estar na civilização da qual você faz parte — muito além do famoso “des Lustprinzips”. Teus problemas são outros e sua narrativa navega pelos quatro universos acima... assim como a Anitta também apesar de você não saber!
A única coisa que fiquei imaginando conectada ao “Anittagate” é uma memória de 1996. Escreverei no presente…
Estou eu em Manhattan, tinha saído da Virgin Megastore e entrei numa loja grande de revistas pornô que ainda resistia (ficava quase do lado da Disney Store). Muita gente comprando brinquedos eróticos e fuçando revistas pornográficas do mundo todo. No fundo da loja um neon pink piscava com dizeres “private cabins and girls inside”. Vinte doletas para entrar, pago e fui avisado para ir até o final do corredor escuro cheio de cabines. Um entra e sai de gente vendo filmes pornô por alguns minutos nas cabines à minha volta. No final do corredor uma sala circular, cheia de portas. Entro na primeira aberta. Fecho a porta. Um cheiro ácido e forte no ar. Água sanitária. Escorrego... mas não caio pois as paredes do cubículo não permitem. Era esperma alheio... um tiozinho com cara de “gnomo” limpava as salas quando podia com um rodo e um balde fétido... eu entrei antes e não deu tempo dele limpar — “que ansiedade”. Consigo fechar a porta. Tranco. Abre-se uma escotilha com um zumbido eletrônico e vejo várias garotas asiáticas se masturbando e dançando. Como era uma sala circular podia-se ver os rostinhos dos vizinhos em algumas escotilhas (panoptismo do Foucault masturbatório — vigiar e punir o falo... kkkk) — elas fechavam e segundos depois abriam. Uma das moças dirige-se à minha escotilha e esfrega os genitais no vidro... segundos depois começa a dizer... Momani, Momani... ou seja MORE MONEY, MORE MONEY e minha escotilha começa a fechar. Percebi como funciona — tenho que jogar mais doletas por um buraquinho, 20, 50, 100 para fazer o show grotesco continuar... assim como a Anitta jogando dinheiro para Stripper, tenho que fazer isso, more money... mooooore money. Mas é opção minha — continuo na perversão? Tocava Tomorrow Never Knows, The Beatles muito alto! Que heresia estar num lugar como esse, um cara tão sério como eu… kkkkkk. Meu supergo matador me diverte! Acho que a stripper me curtiu... pois sem momani a minha escotilha abre. Daê vejo a “grana” sendo jogada pelos espectadores. Não tinha percebido antes caindo pelas fendas e as garotas coletam as notas cada uma de um jeito. Umas colocavam no micro-biquini, outras colocavam no pulso com um elástico ou numa caixinha próxima de onde se exibiam.
Jogar fora ou trocar dinheiro por sexo — ostentar... prática comum pelo mundo meus caros — “Ahhh vá?” Quem pode mais consegue mais. E você já fez algo desse tipo? Conte-me! Mas não vou te pedir “more money”. No lalangue lacaniano do inglês norte-americano, senti o hiato entre MOMANI e MORE MONEY e isso fez toda a diferença para rirmos um pouco por aqui não é?